Que jornalismo é este?

Hannah Arendt diz que "a corrosão dos fatos corresponde à corrosão da democracia".
Sábias palavras.

Nos dias atuais tudo cabe no espaço de 3.5 a 5 polegadas das telas dos smartphones, nas 15 polegadas de um laptop, nas telas de até 8 polegadas dos tablets ou, por fim, nas telas de 30 ou mais polegadas dos modernos PCs que enfeitam nossas mesas.

Vi, nos meus 65 anos, esta revolução acontecer.
Testemunhei a velocidade impressionante que transformou meu PC pesadão movido a DOS 6.22 em artigo de museu com a chegada das "janelas" do windows 95. E, depois, vi meu win95 se tornar obsoleto com a chegada do XP e deste com outras versões até a chegada do win 10.
Testemunhei meu celular tijolão ser substituído por aparelhos cada vez mais menores, mas portadores de uma tecnologia que chega a assustar todos aqueles usuários do velho DOS como eu.

Tudo cabe numa telinha dos meios de comunicação que hoje a tecnologia nos oferece. Desde nossas sensações e sentimentos mais íntimos postados em nossos facebooks da vida com "amigos" que sequer sabemos o nome completo, até às manifestações pessoais sobre qualquer assunto expostas na rede mundial de computadores.
Passamos, indivíduos, a fazer parte de um contexto que anos atrás nem chegávamos perto.

A informação, 60 anos atrás, era privilégio de poucos. Nem todos tinham condições de gastar diariamente com a compra de jornais. A informação, portanto, se retransmitia de forma gradual, lenta e não socializada. Acreditávamos mais no que ouvíamos ou vivíamos.
Hoje não.
A informação se dissemina como praga, como virose grave que contamina como pandemia as mentes, mesmo que elas não estejam dispostas a colher informação.
Recebemos hoje uma avalanche de informações que podemos ou não classificar como úteis, mas que estão de acordo como o nosso "perfil".
Nossos gostos e desgostos ficam gravados em bancos de dados que regulam aquilo que, segundo eles, nos interessam.

Se antes, com a escassez das fontes de informação, tínhamos dificuldades em identificar o que prestava e o que era imprestável para formarmos nossa opinião sobre determinado assunto, esta mesma dificuldade permanece agora diante do volume gigantesco de informações com que somos bombardeados.

Quase todos os setores da vida normal de uma sociedade estão se adaptando às mudanças paulatinas que aconteceram nas últimas décadas.
A imprensa, o jornalismo, no entanto, estancou no tempo e ainda acredita que tenha hoje o mesmo poder que detinha décadas atrás.
Ela, ele, estacionou no tempo.

O jornalismo continua agindo como se fosse ele o patriarca da informação. O dono inconteste de todas as verdades do fato.

Se antes tínhamos além da dificuldade de acesso, a dificuldade de buscar filtro necessário ao que era verdade, a mesma dificuldade permanece agora, só que em maior escala tal o número de "indivíduos" que participam ativamente do patrimônio, antes exclusivo da imprensa, chamado notícia.

A NOTÍCIA, antes patrimônio exclusivo da IMPRENSA, se transformou em bem comum que escapa completamente ao domínio de seu antigo dono.
Esta verdade se comprova quando vemos sites e blogs independentes, isto é, fora do jornalismo tradicional, competindo em "visualização de páginas, likes e compartilhamentos" com os grandes jornalões.

Assim, a notícia do Estadão, da Folha, de O Globo ou qualquer outro representante do jornalismo tradicional é também a notícia de um blog bastante acessado, mas com um viés mais verdadeiros que eles.
Quer dizer: A NOTÍCIA FOI BARATIZADA, abandonou o lado comercial que mantém vivo os grandes jornais e se bandeou para uma turma de "profissionais amadores" na distribuição da notícia que interessa.

E cabe então formular a seguinte pergunta:

Se a imprensa de verdade é fundamental para o fortalecimento de uma democracia o que acontecerá se esta imprensa falseia a informação em benefício de algo ou algum grupo, transitoriamente no poder, quando abre mão da notícia verdadeira para escamotear a verdade?
Ora, a resposta não poderia ser mais óbvia.
O descrédito e, consequentemente, a perda de seu público.

CALAMIDADE: A IMPRENSA NÃO ACOMPANHOU A EVOLUÇÃO DIGITAL E HOJE SE PERDE NA BUSCA INEFICIENTE POR ENCONTRÁ-LA.

Jornalões como o The New York Times, Washington Post, Financial Times e Le Mond são exemplos vivos de imprensa que se adaptou aos tempos modernos praticando jornalismo de verdade, conectados ao que de mais moderno se tem à disposição e fornecendo, para os ávidos por informação, a informação de qualidade.
Enquanto isto, vemos nos Estados Unidos, canais de informação como a CNN, a Fox, A CBS NEWS e outras praticando o mesmo jornalismo praticado pelo Estadão e pela Folha de São Paulo.

A imprensa, de forma geral e mais especificamente no Brasil, perdeu a ESSÊNCIA DO FATO que pode gerar notícia relevante.
Hoje, ela cria o fato sem relevância e esquece da sua essência, acreditando, erroneamente, que ainda "faz a cabeça do leitor".

Como diz um texto judaico:


"As verdades sempre são nuas, mas as mentiras precisam de estar vestidas."

 Hoje, todos os dias, aparece alguém para deixar pelada, no meio fio da credibilidade, as notícias Fakes da imprensa bandida.



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